Estágio não-remunerado: oportunidade ou exploração?
Por definição, o estágio é um período no qual estudantes ou recém-formados podem colocar em prática o que aprenderam. Esse período tem diversos formatos: para alguns cursos, faz parte do plano básico de estudos, e não são remunerados. Para outros, acontecem externamente à universidade e podem ou não ser remunerados.
É importante apontar que se todos os estágios não-remunerados fossem considerados exploratórios e proibidos, boa parte dos sistema educacional precisaria de uma reformulação completa. Essencialmente, é o caso das áreas da saúde, das ciências e da educação. Sendo assim, a discussão sobre os estagiários que não recebem salário precisa sempre conter um recorte de mercado.
Além da questão do curso, o segundo ponto de análise seria a carga-horária do estágio. Há vagas com meses de duração e que exigem mais de 20h semanais, ou seja, mais do que um turno por dia. Nesse caso, o estagiário passa a trabalhar de modo semelhante a outro colaborador, e talvez devesse ser remunerado também de forma semelhante.
Porém, há opções que não se aproximam de um emprego: em que estudante trabalha poucos dias da semana, poucas horas por dia, ou por um período curto e determinado. Por exemplo, um estágio de verão. Nesse tipo de programa, a experiência é válida para o estudante, mas superficial para a empresa, o que torna a remuneração mais rara.
Por último, é necessário entender as atribuições da oportunidade, e se realmente o estagiário será um contributo ou um investimento. A depender da vaga, os estagiários precisarão de acompanhamento integral de um profissional experiente e tê-los pode ser uma maneira da empresa investir em talento futuro, e não uma maneira de delegar tarefas.
Pensemos em uma oportunidade da área financeira. Por um lado, para realizar tarefas administrativas simples ou redigir relatórios internos, é possível que o estagiário tenha certa autonomia. Porém, para representação da instituição ou empresa no ambiente externo (com clientes), preparação de documentos sensíveis ou gestão bancária por exemplo, quase sempre implicará em uma supervisão mais próxima.
Em resumo, antes de considerar que o estagiário voluntário é explorado, é preciso revisar todo o seu contexto. Este estágio faz parte do curso? É algo essencial para a formação acadêmica? O estagiário trabalha menos de 20h por semana? As tarefas dele são mais simples do que dos outros colaboradores? Aquilo que ele realiza, é revisado depois?
No mercado há boas e más oportunidades, e para os estudantes, estagiar pode ser excelente e diferenciador. Mas na dúvida, se as respostas às perguntas acima forem ‘não’, é hora de repensar sobre a vaga!